quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Homofobia

Aqueles que me conhecem sabem que, para mim, o activismo LGBT dos dias de hoje é nada mais do que uma McCartheice de esquerda, terrivelmente opressiva e que, se não tivesse efeitos tão negativos na comunidade LGBT e sociedade em geral, não seria mais relevante do que um livro da Margarida Rebelo Pinto.

Pois um dos instrumentos mais comummente utilizados na retórica desses grupos é a acusação de homofobia. Se alguém revela reservas quanto ao casamento entre homossexuais, alterações à lei da identidade de género, adopção, criação de uma disciplina de educação sexual (que, de preferência, traduza a sua visão opressiva mas super moderna de sexualidade…), ou outra é acusado de homofobia se não for membro da comunidade, ou de homofobia internalizada se for.

O debate é impossível porque, por definição, quem não estiver alinhado com a visão desses grupos activistas não só no que toca àqueles temas, como com a sua aplicação em legislação particular, é homofóbico. Homofobia é um exemplo paradigmático do que o Orwell chamava de newspeak, sendo o groupthink dos activistas abundantemente claro para quem tem contacto mesmo que remoto com eles.

Devo salientar que eu sempre defendi que os indivíduos devem poder dispor de si e da sua propriedade (i.e. nunca me oporia ao casamento entre PMS), que identidade de género não diz respeito ao Estado (nem deve ser contemplado), que só se deve eventualmente intervir na parentalidade quando houver riscos claros para a normalidade (operacionalizável) física e psíquica da criança (i.e. nunca me oporia à adopção por homossexuais) e que o ensino deve ser privado e livre (i.e. que cabe aos encarregados de educação decidir o que os seus encarregandos aprendem). Assim, nunca me chamaram de homofóbico visto que, com as minhas convicções, o absurdo seria demasiado evidente. Mas em discussão acesa acerca, por exemplo, da recente argumentação de Cavaco Silva no seu veto à lei da identidade de género, essa acusação esteve próxima simplesmente porque para o activista, discordar da ideologia é homofobia.

Reparo que, na minha experiência no uso da língua portuguesa, o sufixo “fobia” costuma ser utilizado em situações extremas (na retórica moderna usa-se muito o termo “patológico” aqui) – eu não gosto muito de aranhas, mas não tenho a reacção que um aracnofóbico tem quando contacta com elas. Não gosto de ir ao Continente, mas não tenho a reacção de um agorafóbico. Etc. (Claro que alguns dirão logo que a distinção não é preta e branca, que há uma gradação. A esses respondo que Marx tinha barba e que a minha sobrinha não tem, apesar de não poder dizer quantos pelos são necessários para se ter uma barba). Assim, homofobia (e seus semelhantes – transfobia, bifobia, etc.) deve utilizar-se em situações extremas – não apenas quando alguém se opõe aos supostos interesses da comunidade LGBT, ou quando alguém simplesmente não gosta de homossexuais.

Termino com um exemplo. Ouço muitas vezes dizer-se que em aldeias do interior a população é muito homofóbica. De facto sempre vivi no Porto (uma cidade, no meu entender, muitíssimo gay-friendly, apesar do choradinho activista) pelo que não sou especialista, mas creio que mais do que homofóbicas, as pessoas nessas comunidades simplesmente não estão familiarizadas com esses comportamentos. Dizer que um velhote de 80 anos é homofóbico porque ele diz “que nojo” se lhe mostrarem uma foto de dois homens a fazerem um bico, é exagerado. Dizer que ele é homofóbico porque não lhe parece bem que duas pessoas do mesmo sexo casem, é exagerado. Dizer que ele é homofóbico porque não quereria que os seus netos fossem criados por homossexuais, é exagerado. É provável que ele não tenha razões plausíveis para essas suas crenças e convicções, mas falta de plausibilidade não é suficiente (provavelmente nem necessário) para uma fobia.

5 comentários:

  1. Olá, Diogo.

    Concordo contigo em tudo e fico muito contente que hajam pessoas que pensem e tenham uma linha de raciocínio como a tua. Ou, pelo menos, espero haver mais pessoas assim! ;)

    Digo-te mais: eu tenho tudo (?) o que uma pessoa pode querer para ser um bom activista, neste caso do meio LGBT: conhecimentos, influência, considero-me bom comunicador, sou altamente perspicaz e realista em relação a todos estes temas. Já fui elogiado em frente de algumas dezenas de pessoas (várias vezes) depois de fazer um mini discurso sobre o VIH/SIDA, ou sobre as diferenças entre um Transformista e um Travesti ou até sobre a própria visão da homossexualidade no nosso país.

    Nunca quis, porém, ser esse mesmo activista que poderia ser tão facilmente.

    Porquê? É fácil: nunca tive muita paciência para o diz que disse, diz que fez e diz que aconteceu. É horrível. Nos últimos 11 anos e meio tenho tido contacto directo com pessoas, entidades e ONG's (uns são amigos, outros fui conhecendo, entre outros) e não há NENHUMA entidade ou organização que faça as coisas apenas em prol da comunidade, da diferença e da luta por direitos iguais sem se chatearem com terceiros ou outras entidades. É todo um mar de falsidade, lutas, divisões, divórcios e separações entre as próprias entidades que nunca acabam.

    E, por eu saber que sou, apesar das qualidades, fatalista, não tenho mesmo "estofo" para ser esse activista. Contudo, fico feliz pelos poucos que existem e que há mais de uma década lutam por alguns direitos os quais eu me identifico.

    Infelizmente, hoje em dia os activistas parece que saltam dos ovos Kinder e é vê-los a crescer como ervas daninhas - são mais que as mães e na verdade a maior parte deles (dos mais recentes) não faz, na verdade, nada pela comunidade LGBT.

    Em relação à homofobia, tens toda a razão: hoje em dia alguém dá um estalo a um rapaz porque ele foi mal educado e, se esse rapaz for gay, então a pessoa que lhe deu o estalo é homofóbica... "Enfim" para isso, é o que costumo dizer.

    Um abraço para ti e espero poder ler mais de ti sobre outros assuntos! ;)

    V.

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  2. Olá V!!!

    Obrigado por comentares e partilhares da minha opinião. Espero que gostes do que vou dizendo. Volta sempre, pah!

    Abraço

    P.S. Para quando um café?

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  3. Amor com amor se paga.
    Um dia leste o meu blogue e escreveste-me um email que não mais esquecerei. Pois aqui estou eu a comentar o teu post. Espero não te decepcionar.

    O exagero que apontas existe hoje na nossa linguagem e em observações de carácter atitudinal, usando termos "ofensivos" para criticar opiniões que são do direito de quem as tem.
    Muitas vezes tenho ouvido usar o termo "esquizofrénico", a propósito de política, futebol ou sociedade, sem a mínima noção do que se está a dizer. Porque tenho essa doença na minha família com o sofrimento e preocupação inerentes, fico chocada para não dizer "overwhelmed" com tal enormidade. Tudo se confunde, dupla personalidade, bipolaridade, psicose, estados alucinatórios para designar meros participantes numa discussão de lana caprina....
    É politicamente correcto concordar-se com tudo o que seja liberdade de atitudes e comportamentos, sem grande discernimento. Quando não concordamos somos ........+fobos.

    Começas bem. Vou por a referencia do teu blogue no meu. Best wishes, Diogo.

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  4. Thank you, teacher!!! Precisely my point. It is important that we denounce situations such as this.

    Obrigado por me visitar! Visito muitas vezes o seu, apesar de não comentar muito.

    Beijinho

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  5. Diogo, obrigado eu por teres um blog e, até ver, teres opiniões que, mesmo eventualmente virem a ser diferentes das minhas, pelo menos fundamentas a tua e argumentas q.b. a(s) tua(s) perspectiva(s)!

    Quanto ao café... É só combinar! ;)

    V.

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