segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Que Parva Que Eu Sou II - Economias

A teoria económica ortodoxa costuma olhar para a formação de duas formas: como um sinal e como um investimento em capital humano. Para a primeira, a obtenção de um grau sinaliza o mercado de trabalho de que o indivíduo tem um conjunto de características que lhe permitiram obter com sucesso esse grau, numa instituição qualquer. Para a segunda, o grau induz a expectativa de que o indivíduo adquiriu um stock de características eventualmente relevantes para o mercado. Na realidade, ambas se passam: quando estudamos desenvolvemos capacidades produtivas relevantes (capital humano) e nesse processo diferenciamo-nos daqueles que não o fizeram (sinal).

Daqui conclui-se que ter uma licenciatura pode não ter valor produtivo nenhum. Se a minha formação for numa área que não é produtivamente relevante (o capital humano não se desenvolve) ou numa escola de baixa eminência (fraco sinal), a produtividade que o mercado de trabalho espera de mim não é muito superior à que esperava quando eu tinha apenas o secundário. De facto, e exemplificando, exceptuando indústrias muito específicas, dominar as ruminações plotinianas sobre a psicologia universal não me parece uma especial mais-valia produtiva, apesar de certamente ser uma mais-valia pessoal.

Os indivíduos que procuram melhorar a sua perspectiva laboral, devem sinalizar-se convenientemente e obter formação relevante para a tecnologia vigente na nossa sociedade. Se não o fizerem, não podem legitimamente esperar grandes benefícios económicos dos seus estudos. Uma forma de o fazerem é estagiando. (Qualquer acusação de falácia individualista aqui, é fruto de incompreensão do que escrevi)

Os primeiros anos de trabalho são anos de fraca produtividade. São aqueles anos em que o trabalhador está a aprender, a ganhar método, organização, etc. É um facto que as taxas de desemprego nesse grupo costumam estar acima da média, o que corrobora aquela observação. Sendo menos produtivo, o trabalhador justifica um menor salário. Para que ele não sinta muito isso, há algumas iniciativas governamentais, nomeadamente isenções contributivas às empresas durante os primeiros anos do trabalhador que procuram fazer com que o menor salário não se reflicta na remuneração líquida do trabalhador. Há muitas empresas que ao fim desse tempo vão despedir uma fatia dos trabalhadores e contratar outros recém-licenciados? Claro! Mas isso não é uma “imoralidade” da empresa ou “capitalismo selvagem”, mas as próprias regras do jogo. (Podia elaborar, mas já estou a escrever demais)

Finalmente, há uma nota que gostaria de fazer aqui. O facto de o ensino superior ser subsidiado é uma das causas eficientes deste (eventual) problema. O aluno não paga directamente o custo da sua formação, pelo que há uma dissociação entre o custo e o benefício. A propina é a mesma quer se tire economia, línguas e literaturas ou engenharia mecânica. Se os alunos e seus associados tivessem de enfrentar os valores reais, a reflexão sobre o percurso tinha de ser outra e as expectativas, logo de início, seriam muito mais razoáveis e o número de licenciados nas diversas áreas muito mais próximo do ideal, pelo simples facto de que os custos não estariam deflacionados e pelo facto menos simples de que as expectativas eram muito mais trabalhadas.

Muitos estarão já a franzir o sobrolho e a acusar-me de não pensar na “igualdade de oportunidades”. Não é este o lugar para responder a essa objecção. Peço apenas a essas pessoas que olhem para o que de facto se passa, e façam uma análise consequencial das políticas que procuram promovê-la através de subsidiação. Se os Deolinda estão a ter sucesso é porque uma fatia “desta geração” não sente que tem essas oportunidades. (Um aparte: ou muito me engano ou o sucesso de expressões como esta música revelam a falência prática de medidas que promovam a igualdade no exacto comprimento em que essas medidas se justifiquem em princípios esotéricos de engenharia social - hei-de escrever mais sobre isto)

2 comentários:

  1. Pois, André. Mas se uma boa parte da fundamentação dos programas de igualdade de oportunidades está na percepção das pessoas, i.e., no acreditar-se que de facto é possível subir na vida, então parece-me que falharam.

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